Capitulo 1 - Amicitiae nostrae memoriam spero sempiternam fore.

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Estava sentada em um barzinho, daqueles bem ajeitadinhos, madeira, teto de vidro, sentindo um pouco do sol que timidamente se mostrava, a vista, sempre linda, na beira do cais, os rangidos dos cabos que prendiam os barcos e o murmurinho da água se tornavam uma bela melodia naquele fim de tarde de início de Outono...

O cheiro do café encontrava sempre um caminho para entrar naquelas narinas, que assim, não conseguia resistir e fazia com que ela sempre tomasse aquele cafezinho...nos horários mais estranhos possíveis: pela manhã, tarde, noite, muitas vezes, até de madrugada, 7 dias, 7 vezes, 7 vazios, pois apesar do momento magnífico que qualquer um podia ver de fora, por dento, era um infinito de solidão.

Quem podia imaginar? Ela, linda, com seus cabelos negros lisos, banhados de mechas mais claras, uma pele lisa e branca e ali, uma voz tênue, mansa, que quase não se ouvia, apenas pelo : Boa Tarde, um cafézinho por favor e o obrigada.

Mas naquele dia, parecia que as coisas estavam um pouco diferentes, ela sentou em uma das mesas, como de costume e pediu seu café e lendo as notícias em seu Tablet, acabou passando os olhos no obituário e viu que seu professor da facudade, Win Jan Chong, havia falecido. Ela ficou surpresa e triste ao mesmo tempo, pois o havia visto a cerca de 1 mês atrás e ele parecia tão bem... Ele era uma das poucas pessoas com o qual ela conseguia se abrir, sua inteligência era sem igual, era um dos melhores infectologistas que ela já ouvira falar e ainda era tão jovem, como que isso poderia acontecer?

Aluna de medicina do último ano, Raquel, estava próxima de se formar e fazia residência no Pronto Socorro de um hospital do município de Wuhan. Ela vinha presenciando um aumento de atendimentos com problemas respiratórios, mas acreditou ser a época do ano mais fria que estava se aproximando...até aquele momento.

“Ele sempre me dizia que o ser humano, diante das suas atitudes estava mudando o ciclo da natureza e não sabia ao certo quais as consequências disso.”


Percorrendo o caminho as cegas

Voltando ao hospital, com aquela notícia envolvendo os seus pensamentos, procurou a Sra. Grey, uma de suas professoras a qual era responsável por sua residência e lhe perguntou se sabia o que havia acontecido com o Professor Win. Ela só respondeu:

- Ele morreu e ponto final. Muitas perguntas para uma Ocidental.

Revolta

“O Preconceito comigo sempre existiu por eu não ser de Origem Chinesa, mas agora, não se trata disso. É muito mais. Eu sei que há algo errado.

 

Win, era muito mais que um professor para ela, eles conversavam bastante, ele era um dos poucos que não há tratava diferente por ela ser Brasileira, ele era cerca de dez anos mais velho que ela, bonito, divertido, Raquel, por muitas vezes não sabia, quais sentimentos nutria por ele, ou ele por ela.

Muitas das conversas que tiveram, foram sobre os trabalhos de pesquisa que ele fazia, ele trabalhava para inúmeras universidades, pesquisando sobre cadeias de vírus, bactérias e como curá-las.


Memórias que voltam

Pensando nele, Raquel começou a se lembrar, que observou, mais de uma vez o Professor conversando com homens estranhos, com ternos extremamente alinhados e óculos escuros, o viu entregar pacotes, outras vezes caixas e uma das últimas vezes, o viu alterando a voz, gesticulando, o que era raro partindo dele e depois que eles foram embora, até o abordou perguntando se havia acontecido algo que pudesse ajudar e ele disse para ela não se preocupar, que eram só clientes dele, o cobrando de uma pesquisa, a qual ele ainda não havia conseguido concluir.

 

Espero que a memória de nossa amizade seja eterna