“Adeus”. Encurtamento da frase “Deus vos recomendo” usada pelos padres há centenas de anos quando era comum que eles fossem convocados a comparecer ao leito de morte de alguém que estivesse quase partindo para “encomendar a alma” desde que, então, poderia ascender ao paraíso.
Com o passar do tempo a frase fui encurtada e caiu no uso popular para despedidas, sendo usualmente utilizada quando as pessoas vão se despedir e não vão se ver tão cedo novamente.
Neste momento, não posso dizer que me enquadro na primeira, pois não me encontro no leito de morte literalmente, não por doença, ou acidente, mas por escolha, mas me encontro em um momento de despedida e espero não ver os meus parentes e amigos tão cedo novamente.
É complicado escrever uma carta de Adeus, explicando os motivos que me levaram a partir, gostaria de poder lhes contar através da minha voz, para que todos possam sentir através da minha voz embargada, a emoção que estou sentindo nesse momento, mas as mesmas lágrimas que embargam a minha voz, não estão me permitindo pronunciar uma única palavra, por isso, resolvi escolher a forma escrita.
Espero que eu consiga me expressar ao coração de todos vocês.
Apesar de eu vir a este universo aparentemente totalmente preenchida, recebendo tudo que eu precisava e até mais, por dentro, sempre senti um vazio imenso que por mais que eu procurasse preencher, continuava ali, escuro como um buraco negro e quente com uma lava que derrete e queima.
Sempre houve guerras em mim, não sei falar se esses conflitos se deram pelo fato de eu possuir demais e todos que estiveram ao meu redor quisessem um pouco de mim, ou se o simples fato de existirmos, traz junto o karma da luta do bem contra o mal.
Este ano de 2020, apesar da pandemia do coronavírus que atingiu a humanidade, não foi um ano tão diferente assim como todos falam, foi um ano em que guerras continuaram, mas ninguém se preocupou, houve catástrofes e a comoção foi só imediata, houve fome e poucos se preocuparam em alimentar seu próximo, ao olhar através do espelho do preconceito, houve muita revolta, mas a chama logo se apagou em poucos meses, a velha marcha do olhar para o próprio umbigo ainda continua sendo realizada pela maioria das pessoas.
Nem a morte dos amigos e parentes próximos foi incentivo para a maioria das pessoas criarem empatia umas pelas outras ou desenvolverem um pouco de bom senso diante de pequenas situações do dia a dia.
Acredito que sou nova ainda, mas não consigo entender o porquê que as pessoas não conseguem se respeitar, porque elas querem tanto poder, porque elas querem ser mais que as outras, não somos todos iguais, mas são as diferenças que nos agregam.
Tenho certeza que quase todos conhecem a estratégia “dividir para conquistar”, a qual foi utilizada nas guerras, nos reinados e infelizmente é utilizada até hoje, para que os grupos se subdividam em muitos e não consigam ganhar força suficiente para lutar contra um inimigo maior.
Quando nos dividimos, nos preocupamos em lutar pequenas batalhas e acabamos não enxergando a grande guerra que está bem na nossa frente e não teremos mais forças para lutar.
As verdadeiros eleições deste ano deveriam ter sido para eleger a vacina que possa nos proteger contra a cegueira da ignorância, da falta de empatia e desenvolvimento do bom senso.
Cansei. Lutei o que eu pude. Hoje, o bem e o mal que habitam em mim deixarão de existir. A partir de amanhã, eu não existirei mais como eu sou e a história realmente mostrará como é cada um de nós.
Pai, lhe entrego a oportunidade de fazer o que é certo com aqueles que sempre respeitou e não se deixar manipular por aqueles que não entendem qual é o preço da liberdade.
Talvez, sozinha, eu não tenha enxergado que a saída era manter os elos suficientemente apertados, mas sei que juntos, mesmo do outro lado, o infinito nos aguarda. “
Karine
Essa carta foi entregue em nossa redação por um portador de um escritório de advocacia contratado pela Sra. Karine Links antes de falecer com a explosão que ocorreu em sua casa.
Ela ainda será periciada pela polícia local, mas pelas palavras escritas por Karine, ela cometeu suicídio e como espécie de reza deixou esta carta com algumas explicações. Não sabemos se Karine estava passando por algum momento de depressão, se esse talvez seja o verdadeiro inimigo que ela esteja falando na carta, mas ainda não conseguimos localizar a mãe dela, única sobrevivente da explosão para confirmar. Parece que esta carta afasta a suspeitas que a mãe pudesse ter algo a ver com o atentado.
E fiquem agora, com o número de mortes por covid...
E continuou noticiando os acontecimentos do dia...
J.D. e Raquel que estavam assistindo as notícias não puderem acreditar naquela carta, ele tinha certeza que havia sido um atentado, não acreditava que Karine pudesse acabar com a própria vida para dar liberdade ao pai dela (ele tinha entendido o que ela quis dizer, diferente dos jornalistas que imaginavam que ela estava falando com Deus) de não ser chantageado, principalmente porque o pai dela morreu junto com ela, será que ela não saberia que ele estaria em casa neste momento?
Ele transcreveu palavra por palavra da carta e não conseguia parar de lê-la. Palavra por palavra, frase a frase, ele lia, relia, parecia mesmo ser ela que havia escrito, era o jeito que ela falava. Ele não podia imaginar, ela nunca esboçou nenhuma desesperança em suas conversas e estava cada vez mais ávida pela investigação, não era possível...
- Ao menos quê.... Deixa eu ler isso de novo...
Raquel, observa a cara que J.D. faz e vê que está grifando algumas palavras e frases.
“ Adeus”. Encurtamento da frase “ Deus vos recomendo” usada pelos padres há centenas de anos quando era comum que eles fossem convocados a comparecer ao leito de morte de alguém que estivesse quase partindo para “ encomendar a alma” desde que, então, poderia ascender ao paraíso.
Com o passar do tempo a frase fui encurtada e caiu no uso popular para despedidas, sendo usualmente utilizada quando as pessoas vão se despedir e não vão se ver tão cedo novamente.
Neste momento, não posso dizer que me enquadro na primeira, pois não me encontro no leito de morte literalmente, não por doença, ou acidente, mas por escolha, mas me encontro em um momento de despedida e espero não ver os meus parentes e amigos tão cedo novamente.
É complicado escrever uma carta de Adeus, explicando os motivos que me levaram a partir, gostaria de poder lhes contar através da minha voz, para que todos possam sentir através da minha voz embargada, a emoção que estou sentindo nesse momento, mas as mesmas lágrimas que embargam a minha voz, não estão me permitindo pronunciar uma única palavra, por isso, resolvi escolher a forma escrita.
Espero que eu consiga me expressar ao coração de todos vocês.
Apesar de eu vir a este universo aparentemente totalmente preenchida, recebendo tudo que eu precisava e até mais, por dentro, sempre senti um vazio imenso que por mais que eu procurasse preencher, continuava ali, escuro como um buraco negro e quente com uma lava que derrete e queima.
Sempre houve guerras em mim, não sei falar se esses conflitos se deram pelo fato de eu possuir demais e todos que estiveram ao meu redor quisessem um pouco de mim, ou se o simples fato de existirmos, traz junto o karma da luta do bem contra o mal.
Este ano de 2020, apesar da pandemia do coronavírus que atingiu a humanidade, não foi um ano tão diferente assim como todos falam, foi um ano em que guerras continuaram, mas ninguém se preocupou, houve catástrofes e a comoção foi só imediata, houve fome e poucos se preocuparam em alimentar seu próximo, ao olhar através do espelho do preconceito, houve muita revolta, mas a chama logo se apagou em poucos meses, a velha marcha do olhar para o próprio umbigo ainda continua sendo realizada pela maioria das pessoas.
Nem a morte dos amigos e parentes próximos foi incentivo para a maioria das pessoas criarem empatia umas pelas outras ou desenvolverem um pouco de bom senso diante de pequenas situações do dia a dia.
Acredito que sou nova ainda, mas não consigo entender o porquê que as pessoas não conseguem se respeitar, porque elas querem tanto poder, porque elas querem ser mais que as outras, não somos todos iguais, mas são as diferenças que nos agregam.
Tenho certeza que quase todos conhecem a estratégia “dividir para conquistar”, a qual foi utilizada nas guerras, nos reinados e infelizmente é utilizada até hoje, para que os grupos se subdividam em muitos e não consigam ganhar força suficiente para lutar contra um inimigo maior.
Quando nos dividimos, nos preocupamos em lutar pequenas batalhas e acabamos não enxergando a grande guerra que está bem na nossa frente e não teremos mais forças para lutar.
As verdadeiros eleições deste ano deveriam ter sido para eleger a vacina que possa nos proteger contra a cegueira da ignorância, da falta de empatia e desenvolvimento do bom senso.
Cansei. Lutei o que eu pude. Hoje, o bem e o mal que habitam em mim deixarão de existir. A partir de amanhã, eu não existirei mais como eu sou hoje e a história mostrará como realmente é cada um de nós.
Pai, lhe entrego a oportunidade de fazer o que é certo com aqueles que sempre respeitou e não se deixar manipular por aqueles que não entendem qual é o preço da liberdade.
Talvez, sozinha, eu não tenha enxergado que a saída era manter os elos suficientemente apertados, mas sei que juntos, mesmo do outro lado, o infinito nos aguarda. “
Karine
- Você não percebe? Diz J.D. e continua: - Essa carta também é para nós. Ela não está falando só dela, ela está falando do planeta terra, que o planeta terra está cansado dessa humanidade que o explora. Ela está dizendo para nós deixarmos nossas diferenças de lado e nos unirmos, os elos que ela fala somos nós e o infinito é o 8. Nós somos os 8 elos. Ela, eu, você, Raissa, Liz, Mike, Thony e agora Tom.
- Mas ela não faz mais parte dos 8 já que ela se foi, diz Raquel... Será que ela não está falando do Charlie?
- Charlie atacou Liz e ela sabe disso. Ela não manteria Charlie em nosso grupo. Eu não sei, mas quando ela diz que mesmo do outro lado continuaremos juntos e que a partir de amanhã, ela não existiria mais como ela é, eu não sinto que ela está dizendo “adeus” como todos pensam. Um pouco antes disso acontecer, conversávamos muito e ela me dizia que adorava história, na verdade foi isso que fez com que ela chegasse a nós, foi a curiosidade sobre Charlie que deu início a tudo isso. Será que quando ela fala de história ela está falando do Charlie? O que será que ela sabia que nós não sabíamos? Eleições, vacina, o ano de 2020, ela não citou tudo isso por acaso.
- Continuamos com muitas perguntas e poucas respostas. Disse Raquel cabisbaixa.
Quando Mike e Thony acordaram, estavam em uma pequena sala. A iluminação não era das melhores, mas podia-se observar que ali funcionava um laboratório, cheio de equipamentos e computadores, não parecia que estavam mais no hospital. Sentados em um sofá improvisado, não podiam acreditar no que seus olhos viam. A mãe de Karine estava sentada bem a frente deles e pedindo desculpas, perguntava como estava a cabeça deles. Saindo do que parecia uma cozinha, vinha Karine com dois copos de água e mais a direita, o pai dela estava digitando em um dos computadores.
- Mas como? Karine, você está viva e seu pai também... Como isso é possível? Todos acham que vocês morreram. E os corpos que foram achados?
- Eu sei que é confuso, mas era preciso.
- Mas porquê? Mas antes de responder, nos dê um abraço, como estamos felizes em te ver bem... e puxando a mão dela, eles se abraçaram... Com a cabeça repousada nos ombros de Karine, Thony observa que tem outra pessoa ali também, de costas, trabalhando com um tubo de ensaio.
- Onde estamos ? Vocês estão fazendo algum tipo de pesquisa aqui? Quem é aquele ? É seguro que ele saiba que vocês estão vivos?
- Calma. Todas as perguntas de vocês serão respondidas a seu tempo. Primeiro, vou apresentá-lo. E apontando para o homem, diz: Professor, por favor, o Senhor pode se aproximar?
E na luz, aquele homem tirou a máscara de proteção e estupefatos, caíram sentados no sofá.
- Mike e Thony, lhes apresento o professor Win, descobridor e desenvolvedor do coronavírus que conhecemos hoje.
Mike, olhou para Thony e só disse:
- É meu amor, acho que ao contrário do que pensávamos, não são eles que estão vivos, somos nós que estamos mortos.
“A cada um seu dia”
◇ Capitulo 1 - Amicitiae nostrae memoriam spero sempiternam fore.
◇ Capitulo 2 - Hoc non pereo habebo fortior me.
◇ Capítulo 3 - Cibi condimentum est fames.
◇ Capítulo 4 - Si vis pacem, para bellum.
◇ Capítulo 5 - Ex ore parvulorum veritas
◇ Capítulo 6 - Semper Flamma fumo est proxima
◇ Capítulo 7 - Serva me servabo te.
◇ Capítulo 8 - Luceat lux vestra
◇ Capítulo 9 - Auribus Teneo Lupum
◇ Capítulo 10 - Ex nihilo nihil fit
◇ Capítulo 11 – Memento vivere
◇ Capítulo 12 - Alea jacta est
◇ Capítulo 13 – Dum spiro spero.
◇ Capitulo 14 - Amor vincit omnia
◇ Capítulo 15 - Nemo me impune lacessit
◇ Capítulo 16 : In vino veritas
◇ Capitulo 17 - Homo homini lupus
◇ Capitulo 18 - Suae quisque fortuna faber est
◆ Capitulo 19 - Stat sua cuique dies