Capitulo 17 - Homo homini lupus

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Sons de sirene por todos os lados, pedaços de lataria de um carro que a minutos atrás, era um carro de luxo estão espalhados por todo o jardim, vidros estilhaçados em mil pedacinhos deixam de fazer parte da linda fachada e passam a compor a decoração da enorme piscina junto com os coqueiros e o deck que nesse momento estavam submersos.

 

Ambulâncias e viaturas chegam para tentar buscar os corpos dos que ali estavam ou talvez salvar algum sortudo que por um milagre ainda podia estar vivo.

 

Grande parte da imensa mansão tinha explodido pelos ares, e a vizinha, da propriedade mais próxima, que inclusive foi a primeira a notificar o ocorrido aos bombeiros, quase morreu de susto com a imensa explosão. 

 

Minutos depois, uma montanha de curiosos e repórteres se apinhavam em volta da faixa amarela e preta que a polícia havia colocado para isolar o lugar.

 

Os cães já vasculhavam em cima dos montes de pedras e paredes despedaçadas, quando, um dos bombeiros ouve ao longe um grito feminino desesperado:

 

- Salvem a minha filha !!! Salvem a minha filha !!! Ela está no quarto....

 

E todos olharam na direção do que parecia ser a parte de cima da casa...Prestes a desabar, dois bombeiros pedem a escada que está no caminhão e a encostando na única parede que ainda estava de pé, pedem para todos se afastarem.

 

Um silêncio toma conta daquela multidão que via a cena daqueles dois homens se arriscando para tentar salvar alguém que ainda pudesse estar vivo.

 

Eles conseguiram subir no cômodo que parecia com um quarto, mas em meio a tanta fumaça quase não conseguiam enxergar, ainda havia fogo em algumas partes e ninguém respondia ao chamado deles. Tentavam ultrapassar as chamas, mas o piso, todo rachado cedia a cada passo, será que aquela mãe delirava? Ou será que a sua filha já estava sem vida? Pensavam eles. 

 

- Saiam daí !!! Agora !!! Gritou um dos policiais que estava na parte de baixo ao lado de fora. Vai desabar !!!

 

E de cima da casa, se jogaram em cima dos escombros que já estavam no solo e socorridos rapidamente pelos colegas, conseguiram escapar da última parte que acabava de cair. Não tiveram muitos machucados graves, só arranhões, mas sentiram muito por não terem conseguido achar a filha que a mãe tanto se desesperava.

 

Nesse momento, a mãe já havia sido socorrida pelos paramédicos, muito machucada, mas aparentemente apenas com uma das pernas quebradas, foi levada ao hospital, em estado de choque.

 

A busca continuou por toda a propriedade, pouco dava para ser reconhecido, tijolos despedaçados, vidros quebrados, eletrodomésticos totalmente despedaçados, haviam peças, que pareciam de computadores por toda a parte, roupas rasgadas, móveis destruídos, os enormes portões de ferro que guarneciam a entrada da propriedade outrora, se encontravam completamente retorcidos, se parecendo com cobras mortíferas prestes a dar o bote no primeiro que ousasse pisar naquele cenário de terror.

 

- Ninguém sabe ao certo o que aconteceu na casa do maior magnata dos computadores, dono e fundador da empresa Órion. Depoimentos de vizinhos, dizem ter visto o pai e a filha no dia anterior aproveitando a piscina juntos e hoje, para surpresa de todos, ocorreu esta explosão terrível. Como ninguém os viu sair desde então, a probabilidade de todos estarem em casa, é muito grande. E a repórter continuou:

 

- Conforme informações das autoridades locais, a Sra. Links foi retirada com vida e já foi encaminhada ao hospital, não nos foi informado para qual hospital por questões de segurança. Ainda não sabe se foi um acidente ou um atentado, já a filha, conforme informações da mãe, estava no quarto, os bombeiros em tentativa heroica, mas infelizmente frustrada, não conseguiram tirá-la de lá antes do desabamento, com relação ao pai, o empresário Joseph Links, nada se sabe até o momento.

 

Os bombeiros demoraram horas em busca de alguém que ainda pudesse estar vivo. Eles encontraram o corpo de 3 seguranças, praticamente com os rostos irreconhecíveis por causa das queimaduras, encontraram também o corpo de uma mulher muito queimado, mas que pela descrição dos vizinhos parecia muito com a Karine, a filha, e aparentemente abraçado com ela, talvez para protegê-la, apesar de também estar praticamente irreconhecível, mas as roupas, cor da pele e cabelos, indicam que era seu pai.

 

- Corpos foram achados nos escombros e ainda serão levados para análise, mas conforme informações das autoridades locais, tudo indica que se tratam dos seguranças que estavam na casa no momento da explosão, como também a filha e o pai. Será o fim da família Links ? E continuou com suas insinuações ardilosas:

 

- Amigos da família que não querem se identificar disseram a nossa produção, que a esposa já não estava “casada” com o empresário há alguns anos e que só estavam juntos pois a figura de “família” fazia bem para os negócios. Ela, hoje, se confirmada a morte do marido e filha, será a principal herdeira de toda a fortuna.

 

Os curiosos de plantão àquela hora da noite já haviam ido para a casa, só sobrando dois ou três repórteres, os quais foram expulsos naquele momento pelos policiais.

 

O local seria todo periciado pela manhã e ninguém poderia entrar ali por enquanto.

 

E parecia que aquela explosão também tinha se dado no Brasil, em São Paulo, bem no colo de José Duarte.

 

Ele tinha falado com Karine a poucas horas, tinham descoberto que a placa da Van que a Raquel tinha passado, levava há uma das empresas do pai de Karine, a qual prestava serviços em vários países, inclusive a China.

 

E agora, morta? E seu pai também? Ele não podia acreditar. Ele sabia que aquilo não era acidente, tinha certeza que era obra daqueles que os ameaçavam, acho que o que foi pedido para o seu pai não foi concluído com sucesso e eles se vingaram. 

 

- Meu Deus !!! O que será? Eu gostava tanto da minha amiga. E se colocou a chorar.

 

Em meio ao choro pensou no grupo e percebeu como todos estavam em perigo. Imediatamente chamou todos no chat secreto perguntando se tinham visto as notícias da tv e todos chocados com o acontecido, lamentavam a perda amiga.

 

- Vocês não percebem? Não foi um acidente, foi vingança, queima de arquivo. Todos nós estamos correndo perigo. Raquel !! Saia da China, imediatamente. Primeiro o bilhete, agora a explosão na casa da Karine, saia daí, se quiser, posso te abrigar aqui no Brasil, mas venha logo, eu tenho a impressão que você será a próxima.

 

Raquel com a voz triste e aflita, respondeu:

 

- Estou com medo, claro, mas não posso parar o que estou descobrindo por aqui, eu fui até o laboratório da faculdade hoje e como vocês disseram, a Van estava lá. Eu não pude entrar, não me deixaram, eles bloquearam as entradas para esta parte da faculdade, mas tenho certeza, que se eu for a noite, eu vou achar mais alguma coisa, eu só preciso de tempo para fuçar na sala do professor Win.

 

- É muito perigoso. Disse Raissa, esses homens não estão com brincadeira não, o que adianta você conseguir algo e não sair viva de lá. Faça o que o J.D. falou e vá para o Brasil, eu tenho amigos “diferentes” em toda parte, inclusive aí, mentiu Raissa, eu vou pedir para eles darem uma olhada.

 

- Eu quero ir com eles, disse Raquel corajosamente.

 

- Eles não gostam de aparecer para ninguém e não vão aceitar ajuda. Respondeu Raissa rapidamente para que Raquel não pedisse isso novamente.

 

- Ok. Eu só vou então pegar minhas coisas em casa e pego o primeiro vôo. Disse Raquel não muito feliz com a resposta.

 

- Não acho que deveria ir para casa, manda alguém ir para você, disse Tom se metendo na conversa.

 

E todos acreditando que Tom era da polícia como Liz tinha falado, apoiaram o que Tom disse.

 

- Eu tenho amigos na polícia federal, disse Tom: - já vou deixar tudo acertado para você.

 

E todos felizes com a entrada do Tom no grupo, tristes por Karine e preocupados com Raquel, terminam aquela conversa.

 

O telefone de Liz toca, minutos depois que todos se despedem e Raissa já começa a falar:

 

- Você sabe quem é o amigo “diferente” né?

 

- Eu imaginei de quem você estava falando. Respondeu Liz em um tom baixo.

 

- Ele pode viajar para onde quiser e entrar onde quiser, ele pode entrar lá e ver se não tem mais alguma coisa. Falou Raissa.

 

- Eu não sei se ele vai querer ir. Disfarçou Liz.

 

- Peça a ele, todos estamos correndo risco. Disse Raissa, agora preocupada, pois tinha dado sua palavra a Raquel.

 

- Vou pedir. E ansiosa, Liz desligou o telefone.

 

Caminhando até a varanda, Liz chamou Tom para uma conversa, era o lugar que ela gostava de pensar.

 

- Meu amor...

 

- Lá vem... Quando você começa com este meu amor...

 

- Você sabe a quem Raissa se referia no grupo, né?

 

E se fingindo de bobo, respondeu:

 

- Não, quem? E deu um sorrisinho de canto de boca.

 

- Você sabe que era de você que ela estava falando. Falou liz séria.

 

- Eu não vou para China não. Até por quê se eu descobrir algo que comprometa a existência da humanidade não poderei divulgar e você sabe. E Tom Continuou:

 

- Você sabe qual é o problema. Todos querem poder e isso vem da guerra e da fome. Descobrir e divulgar algo neste momento em que o mundo está preocupado com a cura da doença e prevenção com a criação de vacinas seria uma loucura.

 

- Mas será que talvez o que você encontre lá não seja exatamente isso? A cura ou a vacina? E abraçando Tom continuou falando em seu ouvido:

 

- Por favor. Vá lá, se não achar nada, ok, se achar algo muito ruim não divulgamos, mas quem sabe você vai achar o que salvará a humanidade?

 

Tom, empurrou delicadamente Liz e olhando para as paredes da sala perguntou:

 

- No que você está pensando?

 

- É só uma teoria. Um pouco absurda, mas é uma teoria. Respondeu Liz e continuou:

 

- Nós sabemos que o professor Win estava pesquisando a doença antes de todo o mundo saber, certo? Com a leitura dos seus relatórios podemos ter a certeza que o vírus foi desenvolvido pelo homem e que não foi um vírus que surgiu simplesmente da natureza; sabemos também, que não havia nenhuma prova que foi o professor Win que desenvolveu e que aparentemente ele estava tentando modificá-lo. O que não sabemos é quem o contratou para fazer isso e se ele estava o modificando para ficar mais ou menos letal. Nós não deixamos esse relatório cair em domínio público porque você me convenceu que as pessoas só imaginam o pior e muitos países com certeza iriam entrar em guerra com a China, achando que a China estava desenvolvendo algum tipo de arma biológica. Uma guerra nesse momento, além de espalhar muito mais o vírus, ainda traria mais mortes de inocentes pela própria guerra, além do aumento da fome e atraso nas pesquisas para desenvolvimento da cura ou de uma vacina. Então, pensando com meus botões.... E continuou:

 

- Pensei... E se o professor Win estava buscando exatamente a cura para esta doença antes que ela se alastrasse? Ou talvez uma vacina para o mundo poder se prevenir? Eu sei que foi errado não ter se contado dessa doença para o mundo assim que ela apareceu, mas talvez eles não queriam causar essa histeria coletiva. Essa histeria faz muito mal para os negócios, você não acha?

 

- E só para saber. Além do papai Noel, você acredita no coelhinho da Páscoa também? Perguntou Tom dando um risinho para Liz.

 

- Para de ser besta Tom, estou falando sério. Respondeu Liz um pouco brava e continuou:- Eu não sou inocente, você sabe disso, passei minha vida inteira na merda, mas não é por isso que eu não posso enxergar bondade nas pessoas, e também não estou sendo tão boazinha assim, tem todo um interesse econômico por trás na luta pela cura de uma doença.

 

- E você já pensou também que essa doença pode ter sido criada para matar uma etnia inteira? Ai, se Hitler tivesse a tecnologia de hoje... Ou talvez para matar uma faixa etária inteira? Pessoas idosas não são produtivas, são? E talvez deem muitos gastos para o país? Qual país será que teria interesse nisso? Já pensou também, que talvez o governo chinês quisesse que essa doença se espalhasse para providenciar e cura e a vacina para o mundo? Ou será que tudo isso não tem nada a ver com a China e alguém tinha muito interesse que o mundo ficasse contra a China, causando uma Guerra? Posso listar para você alguns países no mundo que adorariam ver a China fora do mapa. Fora que guerras dão dinheiro, muito dinheiro. Doenças, também dão dinheiro, muito dinheiro, minha querida.

 

- Mas o mundo inteiro está sofrendo com essa doença. Disse Liz cabisbaixa.

 

- Talvez tenha saído fora de controle. Só talvez. E olhando bem nos olhos de Liz, falou, encerrando a conversa:

 

- Tá bom. Eu vou lá dar uma olhada.

 

Charlie, ainda não estava sabendo do que havia acontecido com Karine e seu pai, mas intrigado com a foto que carregava sempre com ele, se candidatou novamente para os trabalhos de campo.

 

O “chefe” achou estranho, pois tinha sentido a revolta dele após o “incidente” em Beirute, mas foi convencido por uma mudança de postura, o qual Charlie mostrou, dizendo que trabalhando nos arquivos passou a entender que as “mudanças” devem existir para que o mundo continue existindo da melhor forma.

 

Então, o “chefe” resolveu enviá-lo em mais uma missão. Era um teste de fidelidade. Não sabendo como, mas o “chefe” sabia onde Tom estaria nos próximos dias e enviou Charlie para detê-lo. Não era possível matar Tom, mas era possível que ele plantasse provas falsas para que Tom levasse para o grupo, o que faria com que eles caminhassem para o lado que a "Força" queria.

 

Quando Charlie chegou ao laboratório do professor Win, observou tudo com muitos detalhes, da forma que ele achava que Tom faria e colocou “as provas”, relatórios e parte de experimentos de uma forma que se concluísse que a China estava desenvolvendo a doença para matar seus idosos e ainda produzir vacinas e cura que só funcionariam para os mais jovens. Charlie, tinha que fazer isso, pois o “chefe” saberia se não o fizesse, mas deixou um pedaço de cabelo de Liz em cima de uns dos papéis, torcendo que Tom entendesse que ele esteve ali e que na verdade queria ajudá-lo.

 

Quando estava saindo do laboratório tropeçou em uma parte mais alta do piso e quando abaixou, percebeu que não era um defeito e sim uma porta, forçou para abrir e lá dentro encontrou uma chave dourada com uma cruz desenhada, nunca tinha visto algo parecido, mas mesmo não tendo a mínima ideia de que tipo de porta ela abriria, a levou consigo, pois se estava escondida, com certeza era importante e rapidamente, sumiu no ar.

 

Algumas horas depois, Tom estava no laboratório e depois de algum tempo encontrou os relatórios e instrumentos que Charlie havia deixado por lá. Pronto para ir embora, sentiu os fios de cabelo entre os dedos quando foi colocar os documentos na mochila e estranhou que a cor e a textura eram exatamente como aos de Liz.

 

Pensou um pouco, em como poderia estar os cabelos de Liz ali, ela nunca tinha ido a China, achou até que havia se enganado, que ele poderia ter trazido junto com ele, mas aí pensou em uma das únicas pessoas que poderiam estar ali e tinham tido contato com ela: Charlie.

 

E ele sabia que ele não era bobo em deixar aquilo cair ali, ele sabia que era um aviso, que era para mostrar que ele esteve ali. Mas por quê? Se ele trabalhava para a Força porque deixaria rastros de propósito.

 

Cego de raiva por sua amada ter quase morrido por causa da explosão que Charlie causou, fez a sua viagem de volta e nem passou pela sua cabeça que na verdade Charlie, naquele momento, estava querendo ajudar. E pensando em tudo que havia descoberto, só conseguia imaginar a tristeza de Liz quando soubesse que estava errada em ver o lado bom das pessoas.

 

“ O homem é o lobo para o homem”