Hoje, eu não gostaria de estar postando esta dica, pois o motivo que me levou a isso é o dos mais absurdos e como o próprio nome da minissérie que estou indicando tem, é INACREDITÁVEL.

Como já comentei com vocês, sou advogada, mas acima de minha atuação profissional, sou mãe, de uma menina, mulher e acima disso, ser humano. E me preocupo muito com o mundo atual e o mundo que vamos deixar para nossos filhos.

A indignação que trouxe o caso, ou como posso dizer, o descaso, da linda Mariana Ferrer, traz mais uma vez a discussão sobre esse monstro que convive com as nossas vidas, que é o estupro, a violência contra a mulher.

Eu me indigno todos os dias, ao ver como determinadas culturas ainda podem subjulgar a mulher como um ser inferior, como se o valor da palavra de uma mulher fosse menor do que a  palavra de um homem, como se o seu trabalho não tivesse o mesmo valor do trabalho prestado por um homem, como se o seu Não, ou a ausência do seu sim, não tivesse o mesmo valor que se fosse dito por um homem.

Aqui no Brasil, já alcançamos muitas conquistas, diferente de vários lugares no mundo, onde ainda existem mulheres que ainda precisam lutar por seu direito a estudar, por seu direito a dirigir, por seu direito a votar, por seu direito a casar com quem quiser, na idade que quiser e se quiser, lutam por seu direito de se vestir do jeito que acharem melhor ou até de poder ou não mostrar o próprio corpo ou até somente o rosto.

Nos orgulhamos de termos uma grande empresa de capital aberto liderada por uma mulher, temos grandes atrizes e cantoras mulheres reconhecidas internacionalmente, temos representantes femininas na política, temos o maior canal de finanças do youtube do mundo apresentado por uma mulher, temos liberdade de escolher estudar o que nos interessar, de nos vestir e de conversar com quem nos der na telha.

Mas o "apesar" sempre está presente em nossas vidas. Apesar de Luiza Helena Trajano, ter assumido um negócio da família, apesar de as atrizes e cantoras serem quase sempre dirigidas por diretores e produtores homens, apesar de as mulheres na política serem esposas de políticos ou terem sido colocadas lá com o o apoio de um homem, apesar de podermos estudar o que nos interessa, nem sempre a vaga que poderíamos preencher em determinada empresa vai ser oferecida para uma mulher ou o salário será condizente com o trabalho exercido, apesar de poder nos vestir como queremos, não temos como controlar os olhares e julgamentos das outras pessoas.

O problema está na cabeça das pessoas que não conseguem reconhecer a nossa luta diária e usam esse apesar de, ou que, para justificar quando alguma mulher consegue chegar lá. Quando seremos reconhecidas?

O problema é muito maior do que a igualdade de gênero, está no julgamento, no título de vítima, de coitada, no sexo frágil, na única realmente responsável na criação de um filho, na obrigatoriedade de uma mulher ser mãe, de ter que escolher casar para ser feliz, entre tantas outras coisas, como se a nossa vida fosse uma eterna lista de compras e sempre fôssemos um desses itens de alguém.

Alguém já perguntou o que uma mulher realmente quer para ser feliz? 

Na minha humilde opinião, a mulher só quer ser reconhecida, ouvida e respeitada, como qualquer um, sem vírgulas, sem apesares e sem desculpas.

A nossa luta não é por igualdade de gênero e sim por uma mudança na cultura, menos julgamentos, mais tolerância, mais ajuda e mais amor.

Somos tão capazes quanto os homens, capazes de decidir o que queremos e o que não queremos. 

Não queremos ser vítimas e não queremos ser algozes de ninguém. Queremos ser apenas livres para sermos o que somos e o que queremos ser.

E temos toda a possibilidade de conseguir a mudança necessária, quem aqui não se lembra da Maria da Penha? Ela perdeu os movimentos do corpo ao levar um tiro do marido enquanto dormia e seu nome virou lei em 2006 estipulando aumento das punições às agressões contra a mulher, além de estabelecer medidas para proteger a integridade física e psicológica de mulheres vítimas de violência.

E porque não uma lei Mariana Ferrer? Ela não deve carregar o estigma de menina estuprada, ela tem que saber que ela é o símbolo da mudança, da igualdade, da coragem e da intolerância a impunidade. As eleições estão aí, batendo na nossa porta, vamos fazer justiça nas urnas. Conheça o seu candidato ou candidata, sua ideologias e suas crenças.

E mamães e papais, vamos ensinar nossos pequenos a se respeitar mutuamente, que ninguém é melhor que ninguém, que mulher e homem podem fazer qualquer coisa que desejarem, que não existem coisas de menino ou menina, ensinem a eles que Não é Não, não forcem seus filhos e filhas a beijarem ninguém ou abraçarem quando não quiserem (nem pais, avós, tios e etc.), respeitem seu tempo e seu jeito, eles não podem acostumar desde pequenos que alguém tocá-los sem eles quererem é normal, ensinem que ser diferente é bom, quanto mais diverso, mas experiências novas aprendemos, que ser preto é lindo e ser branco também, que o chinês não é nosso inimigo, que cabelo bonito é aquele que é cuidado, que a estética não faz diferença nenhuma e que o importante é termos saúde, pois a verdadeira beleza é andar com a consciência limpa, um sorriso no rosto, de cabeça erguida e não tendo medo de ser feliz.  

E que venham mais Luizas, Elzas, Nathalias, Marias, Marianas... 

E voltando a dica de hoje, assista INACREDITÁVEL, uma série da Netflix que fala sobre uma menina que foi estuprada e não só não acreditam nela, como ela é acusada pelo estado de mentir sobre isso até que anos mais tarde a verdade veio à tona, comprovando seus relatos. Baseado em fatos reais, retrata de forma fiel essa triste realidade que vivemos, a forma, como muitas vezes são conduzidas as investigações, a coerção, o constrangimento e o dano que por muitas vezes perdura na vida de uma mulher para sempre.

Assista, se emocione e sinta do fundo do coração o desejo de mudança.